domingo, 20 de dezembro de 2009

IMAGEM CORPORAL CORPOREIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

IMAGEM CORPORAL: CORPOREIDADE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
VISUAL
Ms. Profª. Rosilene Moraes Diehl
Acad. Educ. Física Paulo E. F. Peixoto
UNILASALLE, Canoas, RS

1. INTRODUÇÃO
O corpo é a expressão material da personalidade. Sendo intrínseco e inerente, identificado a nós como nosso esqueleto, nosso aparelho muscular, o corpo como um todo.
Temos percepção corpórea própria. Diariamente, frente ao espelho, nos comparamos com os padrões vigentes, estereótipos de beleza e perfeição, e a tendência é imitá-los. Imitação do vestir, do pentear, do modelar o corpo e, principalmente, como agir a partir dos gestos e movimentos. O comportamento do ser humano segue padrões que podem ser compreendidos de forma mais ou menos nítida que entendemos como arquétipos, criando seu próprio mundo através da conquista da natureza. A “corpolatria” é expressão da cultura somática da sociedade de consumo. Estas colocações fazem- nos refletir sobre a dificuldade e modificar uma representação sócio-cultural.

Os órgãos dos sentidos têm o papel de “situar-nos” perante o mundo. Assim como a linguagem que está baseada nas imagens, é através da visão que construímos a opinião sobre o mundo.
Para a pessoa com deficiência visual a percepção de si e do mundo à sua volta é alterada devido às informações que recebem serem reduzidas e suas representatividades, pobres. Assim, tais informações, feitas através da exploração do ambiente pela s mãos e outros sentidos, têm sua representatividade, às vezes, distorcida, gerando ansiedade e insegurança. Seus conceitos se formam ao longo do tempo e a partir de seus relacionamentos sociais, com informações produzidas a partir da descrição de objetos e espaço, por pessoas não cegas.
De acordo com Diehl (2006) a imagem do corpo, bem como sua relação com o meio ambiente, são conceitos abstratos para os cegos, tendo em vista que eles não dispõem ou possuem poucas referências visuais. Eles constroem o seu mundo físico basicamente através de sensações táteis, olfativas e auditivas.
Um dos aspectos mais inquietantes, na concepção do desenvolvimento perceptivo-motor do indivíduo com deficiência visual, é o de reconhecê-lo como um sujeito capaz de realizar e expressar sua corporeidade com a mesma “grandeza” que um vidente. Na
Educação Física, é fundamental a utilização do corpo como instrumento de comunicação e expressão no desenvolvimento do indivíduo com deficiência visual. Atividades que busquem satisfazer as necessidades pessoais e sociais no dia a dia, de forma independente e auto-suficiente são, por exemplo: expressão corporal, música, dança, teatro e atividades esportivas adaptadas. “O contato com o fato artístico, os sons, a música, o movimento, a dança e as artes plásticas, são elementos que nutrem as vivências e a conduta pessoal”.
(BRIKMANN, 1989, p.105).
A proposta deste artigo destina-se, fundamentalmente, pesquisar os parâmetros da percepção corporal em deficientes visuais, identificar capacidades de percepção da imagem de seu corpo, suas inter-relações entre eles e com os demais. Gallahue & Ozmun (2003), comenta que fatores como um sentimento de bem-estar, imagem corporal, posição de controle e depressão, podem ser influenciados pelo envolvimento em atividades físicas.
2. METODOLOGIA
Este trabalho é um estudo descritivo-exploratório. Demarca o perfil de um grupo, analisa certos fenômenos, define pressupostos, identifica estruturas e possíveis relações com outras variáveis.
Definiu-se a população de indivíduos com deficiência visual, tendo como amostra nove sujeitos com cegueira total e dois com baixa visão, na faixa etária entre 19 e 45 anos, pertencentes à região metropolitana de Porto Alegre. Dois dos entrevistados são do sexo feminino e nove do sexo masculino.
O instrumento utilizado foi uma entrevista semi-estruturada. Os itens norteadores da pesquisa foram os seguintes: a) como se dá a percepção da imagem corporal do indivíduo com deficiência visual; b) sua percepção em relação ao corpo e sua mobilidade nas atividades da vida diária e também nas atividades físicas mais intensas; c) relação e interação com o meio, a família, a sociedade, etc.; d) como se processa seu lado emocional, seus medos, inseguranças, alegrias e tristezas.
3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Após a coleta dos dados foi possível chegar a 3 categorias de análise: conforme aspecto físico motoras, social e emocional.

Perspectiva físico/motora
Observamos que estes indivíduos possuem dificuldade em relação à percepção de seu corpo quanto aos aspectos físicos e motores. A percepção, muitas vezes, ocorre a partir das informações dadas pelo outro. Informações que são fundamentais para seu crescimento integrado sob vários aspectos. “O que eu percebo do meu corpo é assim, eu percebo o que os meus amigos falam” (Entrevistado 2); “... eu não me importo muito com isso, mas...eu só sei o que as pessoas dizem, né...” (Entrevistada 10).
Quanto maiores forem os estímulos e novas experiências do indivíduo, mais completo será seu desenvolvimento perceptivo, principalmente sob o ponto de vista psicomotor.
“Falar sobre a percepção que o cego tem do mundo, só ele pode falar, pois somente ele pode percebê-lo pelo seu corpo” (PORTO, 2005, p.35). Quando nos deparamos, ou imaginamos um objeto, ou quando construímos a “imagem” de um objeto, não agimos como uma simples máquina perceptora, mas como uma personalidade que experimenta essa percepção.
Através da elaboração da imagem corporal percebemos que somos iguais aos demais, pelo menos em nossa forma. Os cegos têm, na maioria das vezes, uma “visão” distorcida da realidade corporal. “... Eu sou alto, um pouco... tenho 1,63m” (Entrevistado
8). O Entrevistado 6, aproximadamente mesma altura, disse que era meio alto. “Sou meio magro... meio gordinho” (Entrevistado 1).
Percebemos que a tendência é perceber o mundo, mais como eles crêem ou querem que seja do que através da informação recebida através dos diferentes estímulos.
Acreditamos que para adquirir real percepção, os indivíduos dependem das relações entre os fatores do estímulo captados e das experiências vividas com este estímulo.
Vivemos numa cultura em que a aparência é extremamente valorizada. É através dessa aparência que os demais nos percebem e nos reconhecem, por isso pode-se destacar a importância da imagem na determinação do conceito de auto-identidade e de
autovalorização.
Essa cultura constrói sua imagem de corpo e essa imagem se constitui numa maneira própria de “ver” e viver o corpo. Porém se percebe que os indivíduos cegos mesmo estando, às vezes, fora do “padrão” de beleza estabelecido pela cultura da
corpolatria, relatam estarem contentes com seus corpos. “...Me sinto um pouco alta, né,.. eu me sinto realizada com meu corpo... não sinto bonita e nem feia, me sinto no padrão normal” (Entrevistada 10).
A maioria dos sujeitos entrevistados demonstrou preocupação com a postura, relatando que freqüentemente alguém lhes faz alguma observação a respeito do assunto. “Sim, eu ando sempre de cabeça baixa... eu tenho que levantar a cabeça e não consigo” (Entrevistado 7); “... Sim, a professora de teatro. Ela sempre fazia comentários com a gente, sempre caminhar com a cabeça alta, “olhando” para a frente e nunca caminhar encurvado, apoiando-se na bengala” (Entrevistado 8).
Uma vida fisicamente ativa e habilidade para desenvolver tarefas da vida diária, são fatores que podem ter efeito positivo no conceito que adultos têm de si e na maneira como os outros os vêem (Gallahue & Ozmun, 2003). Devemos ter em mente as dificuldades sofridas pelos indivíduos cegos quanto às possibilidades de ação e interação motora.
Dificuldades ocasionadas pela reação da família e da sociedade que tendem a super protegê-los e a cercearem suas ações. “Às vezes eu tenho medo de ir para certos lugares, porque não tenho boa mobilidade. Às vezes eu vou para esquerda quando é para direita. Eu tenho uma mania, de não ”olhar” para a pessoa que está falando”(Entrevistado 6).

Poucas atividades esportivas e exercícios reforçam este aspecto. Por isso, decorrente dessa já citada tendência à inatividade e a super proteção, constatamos que existe um déficit motor, acarretando uma diminuição de sua mobilidade. Tudo isso, traz consigo uma criação de barreiras e obstáculos que dificultam sua acessibilidade nos lugares onde poderia ir sozinho. “Uso bengala, eu não ando na rua sozinho, só se agarrar no braço de uma pessoa para caminhar” (Entrevistado 3); “Olha, na rua eu não ando sozinha ainda...mas eu estou fazendo aulas de locomoção” (Entrevistada 5).
Os obstáculos encontrados podem levá-los a um processo desencadeador de severos comprometimentos relacionados à independência, segurança e integração com o meio e consigo mesmo.
O ser humano é um complexo de emoções e ações, propiciadas por meio do contato corporal nas atividades psicomotoras, que também favorecem o desenvolvimento afetivo entre as pessoas, o contato físico, as emoções e ações. A psicomotricidade contribui de maneira expressiva para a formação e estruturação do esquema corporal, o que facilitará a orientação espacial. Consiste em relacionar-se através da ação, como um meio de tomada de consciência que une o “ser corpo”, o “ser mente”, o “ser espírito”, o “ser natureza” e o
“ser sociedade”. A psicomotricidade está associada à afetividade e à personalidade, porque o indivíduo utiliza seu corpo para demonstrar o que sente.
É importante ressaltar que, quando foram questionados sobre as atividades da vida diária, se alguém na família ajudava em alguma coisa, dois sujeitos responderam que a mãe, além de outras ajudas, até abotoava suas roupas, ajudando a colocar a cinta nas calças e amarrar os sapatos. “A minha mãe faz tudo para mim”(Entrevistado 3); “...Eu ainda não apreendi. A maioria dos cegos, a família faz isso com ele, para proteger. Só que depois prejudica um pouco” (Entrevistado 11).
Muito embora todos os outros tenham relatado que sentem alguma dificuldade para a elaboração de suas atividades da vida diária, demonstraram que têm mais iniciativa a respeito. “Eu procuro fazer tudo sozinho, independer das pessoas, mas eu gosto quando uma pessoa vem se oferecer para me ajudar em alguma coisa, eu gosto disso”
(Entrevistado 9).
A criança só apreende aquilo que vive concretamente. É importante que ela faça suas próprias descobertas através da manipulação e exploração do ambiente físico-social.
Para isso podem e devem ser exploradas situações referentes às atividades domésticas, como por exemplo: alimentação, higiene pessoal, saúde, segurança e vestuário. Segundo
Tavares (2003, p.81), “O desenvolvimento de nossa identidade corporal está intimamente ligado ao processo de vivenciar sensações dimensionadas à singularidade de nossas pulsões e de nossa existência desde a mais tenra idade”.
Perspectiva social
A família, muitas vezes, cria ao redor da criança cega uma redoma formada pela superproteção, causada pelo sentimento de culpa, pela desestruturação que o nascimento de uma criança deficiente causa, pelo medo e por falta de informações. Existe um total cerceamento da ação motora, tudo vindo à criança sem que ela saiba a origem, ocorrendo situações abaixo do seu limiar de captação, fazendo com que ela tenha a tendência de fechar-se cada vez mais em seu mundo. “...Eu levanto todo o dia às 8 horas. Tomo café.
“Vou para meu quarto, sento em minha cadeira giratória que a minha mãe me deu e fico escutando rádio o dia todo” (Entrevistado 3).
Para Gandara (1992) a família desempenha papel fundamental no desenvolvimento e educação do indivíduo com deficiência visual, pois resultados mais imediatos e corretos viriam de esclarecimentos e atendimentos prestados a partir da infância.

Como a pessoa cega é muito dependente do meio, não tem muitas chances de escolha, só lhes resta atribuir valor ao que nele acontece. Sua área afetiva poderá estar saturada destes sentimentos equivocados, manifestando ansiedade, inseguranças ou até mesmo, sentimentos de incapacidade. Os indivíduos entrevistados deixaram transparecer a carência afetiva, trazendo a reboque outros sentimentos, como o medo, a tristeza e o pior de todos, o sentimento de solidão. “Ser carente é ser humano, é estar vivo e atuante numa eterna luta, sempre recomeçada e nunca finda” (SAÚDE, 2001, p.82).
A compreensão do quanto o indivíduo cego pode e é capaz diante das situações de vida é um desafio para ele e seus familiares. A maneira como a família se comporta pode acelerar ou retardar o processo de independência, trazendo conseqüências profundas ao longo do seu desenvolvimento. Nesse sentido, entendemos a importância da estimulação na família.
A preocupação com o desenvolvimento da criança com deficiência visual deve iniciar-se no nascimento, para que possam se estabelecer suas bases e atingir a maturidade necessária para uma boa interação sócio-afetiva no seu meio. Cabe, ainda, aos especialistas da Educação Especial, assumirem seu papel enquanto responsáveis pela orientação e estimulação durante o desenvolvimento da criança procurando evitar, prevenir e minimizar, na medida do possível, as defasagens que poderão ocorrer tanto no desenvolvimento, quanto na aprendizagem.
Em conformidade com Schilder (1980, p.243): “Nossa imagem corporal só adquire suas possibilidades e existência porque nosso corpo não é isolado”. Segundo este autor, um corpo é necessariamente um corpo quando está entre outros corpos. As pessoas aprendem a avaliar seus corpos através da interação com o meio em que vivem, assim sua auto-imagem é desenvolvida e reavaliada continuamente.
É preciso estimular o indivíduo com deficiência visual para que se mostre através de sua linguagem corporal, prestando atenção à sua maneira de mover-se, de relacionar-se com o mundo. Cada um traz, em seu corpo, uma memória de vida, uma história, um contexto familiar. Saber olhar esses corpos com a singularidade de cada um é o fundamento de uma didática cuidadosa, que valoriza a subjetividade e estimula potencialidades. Para as pessoas cegas, as maiores alegrias são centradas nos contatos, criando referenciais com alguém que lhes dê atenção. Em contra-partida, manifestam grande frustração quando são relegadas à condição de deficientes e até mesmo uma redução de atenção desperta- lhes tristeza. A indiferença dos videntes não é bem assimilada, tendo como conseqüência a insegurança. Identificou-se que a maioria do público entrevistado não possui muitos amigos e, que o pouco que tem, também é deficiente visual. “...Eu prefiro ter amigos cegos do que videntes, porque me sinto mais seguro, sabe...o vidente não me dá muita segurança... porque já tentei me aproximar de pessoas que enxergam, mas acabei não conseguindo” (Entrevistado 7).
A partir de experiências que valorizem atividades que contemplem o contato com o outro, com o mundo, podemos destacar a contribuição da construção de uma identidade e o desenvolvimento do indivíduo. Para o deficiente visual, estas experiências se tornam fundamentais, desenvolvendo e fortalecendo sua independência e sua auto-estima.
Conforme Porto (2005), o ser humano é inseparável do meio ambiente e esse entorno humano se dá pela natureza e sociedade.
Nessa pesquisa, apenas um sujeito relatou que participa de festas com videntes. “Vou bastante, mas eu peço aos amigos para não me deixar no meio para não bater em ninguém.”(Entrevistado 2)
Na maioria das vezes, suas relações pessoais são comprometidas, fugindo do padrão de normalidade estabelecido. “Eu converso mais é por telefone. Eles (os amigos) nunca têm tempo. Eles falam, ah eu vou te visitar, mas na vão. Aí eu tenho que ligar, senão não me ligam”.(Entrevistado 11).
Assim, podemos identificar o quanto é complicado para esse público participar de eventos para videntes. O que se constatou é que na maioria das vezes, eles só participam de festas promovidas por entidades representativas dos indivíduos com deficiência visual.
Quatro sujeitos relataram que nunca participam.
O relacionamento entre as pessoas caracteriza a unidade básica do sistema. Esta é formada sempre que duas ou mais pessoas prestam atenção ou participam nas atividades da outra, constituindo-se como um contexto crítico para o desenvolvimento. As pessoas não constroem seu esquema corporal sozinhas, sendo essencial o diálogo com os pais, professores, colegas e amigos, sobre o esquema corporal e a imagem do corpo. “Perceber e relacionar-se com o meio ambiente não se resume apenas aos sinais diretos que o cérebro recebe de determinados estímulos” (PORTO, 2005, p.88).
Perspectiva emocional
A pessoa cega, muitas vezes, chega à fase adulta sem um “passado” de experiências, não apresentando as rotinas da vida cotidiana de acordo com a sua idade.
Seus conceitos básicos como esquema corporal, lateralidade, orientação espacial e temporal, são quase inexistentes e sua mobilidade difícil, o que poderá levar à baixa estima.
De acordo com estas colocações, pode-se entender o quanto a criança deficiente visual pode ser mal conduzida em seu desenvolvimento e aprendizagem, quando guiada pela insegurança, superproteção e, mesmo, desconhecimento das pessoas que a cercam.
A partir dos relatos, podemos evidenciar alguns pontos relativos à perspectiva afetiva, onde os entrevistados revelaram possuir uma grande carência, acarretando dificuldades para o equilíbrio emocional e a construção de sua personalidade. “Às vezes eu quero conversar com minha mãe e ela diz que não pode. Ela finge que não escuta. Então, foi aí que fui me fechando... me fechando” (Entrevistado 6).;“Como moro com minha sogra, eu tenho que agüentar muita coisa. Falam as coisas..., que eu não sei fazer comida na frente de todo mundo. Não deixam eu fazer absolutamente nada” ( Entrevistada 10). A maneira preconceituosa de categorizar e rotular a pessoa cega é mantida e alimentada pela ideologia do déficit, num círculo vicioso que se mantém nas exigências produtivas de uma “sociedade de consumo” que só reconhece o indivíduo na medida em que ele produz. Ao mesmo tempo, essa mesma sociedade legitima sua isolação e justifica a criação de instituições asilares. Incontáveis são as pessoas cegas, confinadas em si mesmas, temerosas de “enxergar” a vida com suas próprias mãos, estagnadas em seu desenvolvimento pelas demandas de uma certa dotação física: a visão.
Porém, existem aqueles que ousam desafiar as “leis”, ignorando supostas
“inaptidões” e mobilizam recursos no sentido de pleitear e tomar posse dos espaços conquistados. Não se pode negar que é através da interação que estabelece com o outro que o deficiente visual conquista um corpo seguro, ganhando confiança para a delimitação do espaço físico em que convive.
O desenvolvimento da auto-estima acarreta desafios que precisam ser enfrentados, pois a promoção da auto-estima passa pelo processo de desenvolvimento da aquisição de autonomia. “Ah, eu me sinto feliz. Antigamente eu nem saía de casa. Eu me sinto assim, que estou bem melhor. De fazer piscina. Aqui na Associação, a gente faz expressão corporal, eu me sinto muito bem”.(Entrevistada 5); “Eu sou uma pessoa de bastante alto astral.”(Entrevistada 10).
Normalmente, a auto-estima manifesta-se pela aceitação de si mesmo como pessoa e por sentimentos de valor pessoal e de autoconfiança, constituindo-se em fator determinante para o bem-estar psicológico e do funcionamento social. “No meu trabalho onde tem muita gente eu tenho que provar que eu tenho capacidade... não é porque eu não enxergo que eu vou querer que a pessoa me dá um trabalho com pena de mim, da minha cegueira”. (Entrevistado 10)
Muitos apresentam relatos de inibição quando se encontram entre outras pessoas.
“Na hora assim... que eu tenho que pegar um ônibus, tem que estar perguntando toda hora. As pessoas te ”olham” diferente...” (Entrevistado 2). “...Sinto medo quando como demais, de bater nas pessoas...entrar num lugar errado” (Entrevistado 3).
A vergonha é um sentimento que pode desencadear uma série de reações pessoais e sociais, havendo “remédios” que, no final, resumem-se a poucas medidas. Da vergonha, só nos livramos aceitando-nos com nossos defeitos, o que significa aceitar-se sem esconder as próprias faltas, falhas ou carências. A cura fica em torno de fortificar a auto-estima a ponto de nos permitir suportar o olhar do outro sem nos sentirmos na obrigação de dissimular o erro.
O medo é um sentimento que surge quando estamos diante de um perigo ou ameaça real a nossa integridade física ou psicológica. É uma emoção essencial, já que possui uma função protetora, pois prepara o corpo para enfrentar ou se esquivar do perigo. “ Eu tenho medo de ser assaltado, quando ando sozinho”(Entrevistado 7); “ Sinto medo de eu perder... algo que eu precise para sobreviver, por exemplo, a minha mãe”. (Entrevistado 9);
A aprendizagem, para lidar com os medos e dominar as preocupações e os receios é longa, exigindo que o indivíduo com deficiência visual “se sustente em seus próprios pés”.
Dessa forma, deverá enfrentar suas fantasias e testá-las inúmeras vezes para verificar o quanto são produtos de sua imaginação ou em que aspectos são relevantes, contendo sinais reais e objetivos de perigos dos quais eles de fato precisam se proteger.
As emoções não são e não podem ser vistas como obstáculos a serem evitados. Nas interações com o meio social e cultural criamos sistemas organizados de pensamentos, sentimentos e ações que mantêm entre si um complexo entrelaçado de relações. Assim como a organização de nossos pensamentos influencia nossos sentimentos, o sentir também configura nossa forma de pensar. A tristeza, por exemplo, pode ser originada da perda de algo ou de alguém de muito valor ou importância. Esta emoção pode ser potencializada se aquele que sofre de tristeza passa a acreditar que poderia ter feito algo para recuperar ou evitar a perda, mesmo que este algo a fazer seja na prática impossível de se concretizar, e independe da vontade do triste. A tristeza pode ser a conseqüência de emoções como insegurança, baixa auto-estima e desilusão.
Nos relatos transcritos, observamos que o sentimento de tristeza está presente no dia-a-dia do indivíduo cego, principalmente quando ele se sente “abandonado” pelos amigos, pelas pessoas de seu meio. “ O que me deixa triste é ser excluído” (Entrevistado
9); “Ah, me deixa triste o dia que não tenho meus amigos, que não me ligam...”
(Entrevistada 5).
A deficiência causa efeitos no desenvolvimento da personalidade e do processo de adaptação social do indivíduo. O sentido da deficiência na vida de uma pessoa é o produto do entrelaçamento de sua história pessoal com o meio social onde vive. Sobre o indivíduo considerado deficiente, recairá o estigma da “incapacidade”, da “invalidez”.
4. PALAVRAS FINAIS
As dificuldades encontradas pelas pessoas com deficiência visual relacionadas à sua percepção corporal, sua mobilidade e tudo que se relacione com suas ações são muitas.
Bem como poderia ser com a pessoa vidente. Porém, a falta de estimulação precoce, os obstáculos encontrados no seu dia-a-dia dificultando sua acessibilidade, a pouca oferta de espaços, para através do esporte e do lazer, desenvolver suas necessidades sócio-afetivas são maiores do que as demais pessoas. A carência dessas atividades pode levá-los a um processo desencadeador de severos comprometimentos relacionados à independência, segurança, aquisição e desenvolvimento de conceitos, integração com o meio e consigo mesmo, assumir ou concluir tarefas de conhecimento e satisfação pessoal.
Essas relações entre imagem corporal, aspectos motores e de bem estar psico-social são fundamentais para se compreender a complexidade do universo da imagem corporal, auxiliando na melhor compreensão do desenvolvimento desse fenômeno e dos parâmetros que determinam todo o julgamento de si. Além disso, pode-se levar a especulações sobre trabalhos no sentido de fazer com que haja uma maior aceitação de si por parte do indivíduo com deficiência visual.
Encontramos algo de profundo questionamento à sociedade, o meio em que vive este público. A influência do social no pessoal é um fator existencial pouco considerado numa sociedade individualista, mas determinante para se compreender as limitações e possibilidades do indivíduo cego. Ao analisar o contexto das pessoas com deficiência visual entrevistadas, não fica difícil perceber que estes indivíduos, carentes do sentido da visão, não têm as mesmas condições e oportunidades de viver plenamente sem estímulos.
Ao fazer parte de uma sociedade, o ser humano quer ter direitos e deveres, para ter a oportunidade de participar de modo efetivo do seu processo de construção, estabelecendo relações de troca, como qualquer outro.
Através de atividades específicas e sua total interação com o meio, pessoas com deficiência visual poderão ter mais oportunidades de conquistar seu espaço como cidadãos, independente de sua deficiência. A afirmação da individualidade e o desenvolvimento de uma identidade positiva dependem fortemente disto, contribuindo significativamente para uma vida plena desses indivíduos.
REFERÊNCIAS
BRIKMAN, L. A Linguagem do Movimento Corporal. Trad. Beatriz A. Cannabrava.
São Paulo: Summus, 1989.
DIEHL, Rosilene Moraes. Jogando com as Diferenças. Jogos para Crianças e Jovens com Deficiência. São Paulo: Phorte, 2006.
GALLAHUE, David L., OZMUN, John C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: Bebês, Crianças, Adolescentes e Adultos. Trad. Maria Aparecida da Silva P. Araújo. São
Paulo: Phorte, 2003.
GANDARA, Mari. A Expressão Corporal do Deficiente Visual. Campinas: Gandara,
1992.
PORTO, E. A Corporeidade do Cego. Novos Olhares. Porto Alegre: Mennon,2005.
SAÚDE, Educação e Prevenção, Coleção. Psicologia para Leigo. Porto Alegre:
Conceito, 2001.
SCHILDER, P.A. Imagen do corpo: as energias construtivas da psique . São Paulo:
Martins Fontes, 1999.
TAVARES, M.C.C. Imagem Corporal: Conceito e Desenvolvimento. São Paulo:
Manole, 2003.
Ms. Rosilene Moraes Diehl – professora do Centro Universitário UNILASALLE, Canoas,
RS
Paulo Peixoto – Acadêmico do Centro Universitário UNILASALLE, Canoas, RS
rosilenediehl@hotmail.com
Av. Mariland, 1471 Porto Alegre, RS CEP 90440 – 191



DISPONÍVEL EM: http://www.cbce.org.br/cd/resumos/255.pdf

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Personalidades com Deficiência Visual

Inúmeros homens e mulheres de séculos passados conseguiram a proeza de eternizar seus nomes na História.


Andrea Bocelli , cantor
Anisis, faraó da IV Dinastia Antonio de Cabezón, músico
Ápio Cláudio, cônsul romano
Bertha Galeron de Calonne
Bispo Hincmar, religioso
Cesar Torres Coronel
Demócrito, filósofo
Dídimo, diretor Escola de Alexandria
Dorina Nowill, presidente de fundação
Dorothea Lange
Enrico Dandolo, doge de Veneza
Eveno, advinho grego
Fineu, rei da Tracia
Galileu Galilei, cientista
Helen Keller, escritora
Henry Fawcett, economista e político
Homero, poeta épico grego
Isaac, patriarca hebreu
Jacques Nicholas Thierry, cientista
Joaquin Rodrigo, compositor espanhol
John Metcalf
John Milton, poeta inglês John Wesley PowellJorge Luis Borges, poeta José Feliciano
Katia, cantora
Leonard C. Dowdy
Leonhard Euler, cientista
Licurgo, Rei da Tracia
Louis Braille
Luis III, Rei da Provença e da Itália
Marie Therese Von Paradis, pianista
Marla Runyan, corredora olímpica
Nicholas Saunderson, Matemático e cientista
Olga Ivanovna Skorojodova, psicóloga
Ragnhild Kaata
Ray Charles, cantor
Robert J. Smithdas
Ronnie Milsap
Santo Herveu
Stevie Wonder, cantor
Thomas Blacklock, poeta
Tiresias, sábio grego
Tobias, personagem bíblico
Tom Wiggins, pianista
Valise Amadescu
William Hickling Prescott, historiador

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Educação e Reabilitação de Deficientes Visuais

Na educação da criança cega ou portadora de visão subnormal, cabe ressaltar a importância da Atividade de Vida Diária - AVD, cujo objetivo é proporcionar à criança condições para que, dentro de suas potencialidades, possa formar hábitos de auto-suficiência que lhe permitam participar ativamente do ambiente em que vive.
Ao nascer, a criança encontra-se num estado de dependência total, situação esta que, gradativamente, desaparece com seu crescimento e, já na fase pré-escolar, começa a alimentar-se, vestir-se, ir ao banheiro sozinha e escovar os dentes sem necessitar de ajuda ou apenas com ajuda parcial.
Em relação à criança cega ou portadora de visão subnormal, como isso ocorre? Como proporcionar-lhe a satisfação de necessidades tão fundamentais? Quais os anseios e dificuldades experimentados pelos pais em tais circunstâncias?
Na educação da criança cega ou de visão subnormal destacamos a Atividade de Vida Diária - AVD - como área específica de atendimento, por julgarmos indispensável ao seu ajustamento social.
Se os hábitos à mesa, a postura, a adequação para se vestir e a higiene pessoal são comportamentos adaptativos, há necessidade de um treinamento intensivo, porque a criança cega pode apresentar atitudes inadequadas em algumas dessas situações. Sem dúvida, ela, no espaço maior ou menor de tempo, acabará por realizar as mesmas tarefas que as de visão normal, tomando-se em conta, é claro, as diferenças individuais e a restrita capacidade de imitação de quem não vê. Muitos pais, diante das dificuldades de seus filhos, tornam-se superprotetores e, assim, impedem a criança de vivenciar experiências que contribuirão para sua autonomia.
É de grande importância a realização de um trabalho com os pais, paralelamente ao que é feito com seus filhos, através de encontros e/ou reuniões, oportunizando-lhes a prática das Atividades de Vida Diária, com eles desenvolvidas na escola. Enquanto professora nesta área, fiz com que os pais vivenciassem uma atividade de vida diária de olhos vendados, explicando-lhes sempre que tal circunstância não era, nem pretendia ser, representativa da cegueira, a fim de evitar que, pela associação desta com a escuridão total, desenvolvessem ou aumentassem o sentimento de piedade por seus próprios filhos.
A experiência foi proveitosa, pois eles sentiram e perceberam algumas dificuldades, medos e inseguranças de seus filhos cegos ou de visão subnormal e, assim, encontraram a melhor maneira de ajudá-los e orientá-los em casa, nunca impedindo de realizarem algumas atividades aparentemente perigosas para quem enxerga mas, ao contrário, motivando-os sempre, contribuindo assim, cada vez mais, para sua independência e conscientizando-se de que, também, são elementos importantíssimos no processo de aprendizagem de seus filhos.

E a situação do indivíduo portador de deficiência visual adquirida na idade adulta?
Por vezes, a perda da visão é gradativa, dando condições a que o indivíduo, aos poucos, processe a sua readaptação. No entanto, não são raros os casos de cegueira súbita, por acidentes ou etiologias diversas. Como tais pessoas nada sabem sobre a cegueira, não compreendem como possam continuar a viver no mundo que eles aprenderam a construir e entender através dos olhos. A reabilitação dessas pessoas é um desafio para elas, familiares e educadores, no sentido do ajustamento à sua nova condição de vida, visando minimizar os efeitos psico-sociais causados pela perda visual.

Por Elizabeth Ferreira de Jesusprofessora e coordenadora do Programa Educacional Alternativo - PREA- do Instituto Benjamin Constant.

Deficiência visual e transplante

A deficiência visual concentra o maior número de portadores de necessidades especiais no Brasil e o último levantamento do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) mostra que 60% dos casos de cegueira poderiam ser evitados e 20% revertidos.
Os especialistas do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB) alertam sobre a necessidade de prevenir a perda de visão, causada especialmente pela
catarata - cegueira reversível -,
glaucoma - cegueira irreversível
retinopatia diabética - cegueira prevenível

Maior causa de cegueira reversível, a catarata responde por 48% dos casos de perda de visão no mundo. Caracteriza-se pela opacificação do cristalino, lente natural do olho que focaliza a luz conduzida até a retina para formar as imagens. O olho jovem permite este foco nítido. Com o passar dos anos, próximo dos 60, a luz já não chega tão clara e a visão fica borrada em conseqüência da opacificação do cristalino que se torna amarelado. Este fenômeno é a catarata e faz com que os raios de luz se espalhem e alterem as zonas de foco.
O tratamento existente é a cirurgia de remoção do cristalino e sua substituição por uma lente artificial. Após a cirurgia, a visão é restabelecida.
O TRANSPLANTE é indicado quando ocorre uma perda da transparência da CORNÉA. Apenas as pessoas que perderam a VISÃO por lesão da CÓRNEA podem beneficiar-se do transplante

Educação e Tecnologia Assistivas

Uma boa dose de criatividade por parte dos professores pode fazer com que soluções simples facilitem o aprendizado do aluno. Exemplos? A fita adesiva que fixa o papel na carteira, para que o aluno com deficiência motora possa escrever sem que a folha escorregue, um jogo da memória feito com relevo para os alunos cegos ou softwares que lêem em voz alta o que está escrito na tela. Tudo isso pode ser chamado de tecnologia assistiva, ou seja, toda e qualquer ferramenta ou recurso utilizado com a finalidade de proporcionar maior independência, autonomia, qualidade de vida e inclusão social da pessoa com deficiência.
O Censo Escolar 2006, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), contabilizou 375.488 matrículas de alunos com deficiência na Educação Básica e um crescimento de 76,4% no atendimento em classes comuns. Isso indica que a educação inclusiva no Brasil vem se ampliando. Do total de matrícula, 17,6% correspondem à Educação Infantil, 65,4% ao Ensino Fundamental, 1,7% ao Ensino Médio e 15,3% à Educação de Jovens e Adultos e Educação Profissional. Os dados também mostram que o acesso ao Ensino Superior ainda é um privilégio de poucas pessoas com deficiência. Há cerca de 5.392 matrículas, sendo que 1.665 correspondem aos alunos com deficiência visual. É bom lembrar que a maior parte se concentra nas instituições privadas.

Rede de informações

A Rede Saci é uma rede de informações sobre deficiência que promove discussão, bate-papo, publica artigos e divulga materiais de acessibilidade. O site da Rede também auxilia professores a trabalharem com a inclusão de alunos. As principais ferramentas de atuação da Rede são a internet e os Centros de Informação e Convivência (CICs), situados nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Uberlândia. Educadora e coordenadora da Rede Saci, Ana Maria Barbosa conta que o Observatório de Educação Inclusiva representa um espaço democrático em que professores, família, alunos e pais se reúnem para trocar experiências sobre inclusão.
Os resultados desses encontros foram sistematizados em uma espécie de cartilha voltada para o professor. O livro, editado pela Imprensa Oficial de São Paulo, chama-se "Educação Inclusiva: o que o professor tem a ver com isso" e pode ser baixado no site www.saci.org.br gratuitamente. A Rede Saci pretende dar continuidade ao livro produzindo outros volumes específicos por faixa etária dos alunos. "Essa é uma das contribuições que queremos oferecer à capacitação dos professores", adianta Ana Maria.

Dicas de livros para professores disponíveis na Rede Saci.
Acessibilidade. Brasília: Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, Corde, 2005.
Educação inclusiva: o que o professor tem a ver com isso? Rede Saci, 2006.
MITTLER, Peter. Educação Inclusiva - contextos sociais. Artmed Editora, 2003.
AMARAL, Lígia Assumpção. Pensar a diferença/deficiência. Rede Saci.

Sites sobre educação e deficiência

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Espaço Escolar

Lembramos que a configuração do espaço físico não é percebida de forma imediata por alunos cegos, tal como ocorre com os que enxergam. Por isso, é necessário possibilitar o conhecimento e o reconhecimento do espaço físico e da disposição do mobiliário. A coleta de informações se dará de forma processual e analítica através da exploração do espaço concreto da sala de aula e do trajeto rotineiro dos alunos: entrada da escola, pátio, cantina, banheiros, biblioteca, secretaria, sala dos professores e da diretoria, escadas, obstáculos.
As portas devem ficar completamente abertas ou fechadas para evitar imprevistos desagradáveis ou acidentes. O mobiliário deve ser estável e qualquer alteração deve ser avisada. Convém reservar um espaço na sala de aula com mobiliário adequado para a disposição dos instrumentos utilizados por esses alunos que devem incumbir-se da ordem e organização do material para assimilar pontos de referência úteis para eles.